::::c::::a::::o::::s::::m::::o::::s:::: Caô Press |
29.4.03
80 e muitos
Sou uma anciã aos 23 anos. Ainda não é necessário madrugar para garantir um lugar na fila do INSS, o espelho não denuncia rugas e cabelos brancos, a bunda e os dentes continuam no lugar. Mas há esse cansaço e uma vontade tremenda de pegar o rumo para o Retiro dos Artistas. Aí, liguei para a minha mãe e comentei: - Mãe, sinto-me uma velha. - E quando é que você foi jovem, filha? Depois dessa, os sinais tornaram-se irrefutáveis. O peso dos meus virtuais 89 anos caiu sobre mim quando * ignorei o lançamento do cd da banda que é o hype e que veio salvar o rock; * passei a ignorar os lançamentos dos incontáveis pretendentes a salvar o rock, o soul, o jazz, o samba, o forró, a mpb, o funk... * soltei um bocejo e decidi tirar uma soneca ao me deparar com mais uma polêmica literária envolvendo sobrenomes como Bukowski, Fante, Averbuck, Young, Mirisola; * soltei um bocejo e decidi tirar uma soneca ao me deparar com qualquer tipo de polêmica; * li os comentários de meninas anoréxicas e bulímicas num blog amigo, revoltadas porque ousei dizer que ter um transtorno alimentar não é ter um estilo de vida, e resolvi ficar calada e levar a bengala pra passear; * levei a bengala pra passear na pracinha cheia de confrades jogando dominó e de babás gostosas tomando conta de birrentinhos e achei aquilo o melhor programa do mundo. Aguardo, feliz, o apagar das velinhas do meu nonagésimo aniversário. |