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::::c::::a::::o::::s::::m::::o::::s:::: Caô Press

30.9.03

C de Caô

A recente operação da Polícia Federal para prender mais uma quadrilha graúda - desta vez aqui no Rio - me fez lembrar do (breve) fechamento da revista Fraude, meses atrás. Na época, Eduardo Fernandes, seu editor, disse:

Comercialmente, a primeira coisa que derrubou a FRAUDE foi seu nome. Os diretores de marketing e investidores em geral são tão moralistas que já nos desqualificavam a partir do momento em que nos anunciávamos. O mesmo problema que a falecida revista Bundas, do Ziraldo, enfrentou. (link)

Lembro-me bem da chamada do Ziraldo para Bundas: "Se você não mostra sua bunda em Caras, mostre sua cara em Bundas". Muito bom.

Considerando meramente os nomes (e jamais a qualidade dos conteúdos), acho que "Caô" é bem melhor do que "Fraude". Uma fraude supõe a falsificação de uma realidade dada: por exemplo, o adolescente que altera sua data de nascimento num documento para entrar no cinema, ou o fiscal que apaga uma dívida em troca de um troco.

Essa relação necessária com uma realidade previamente existente não existe no caô. Um caô inventa sua própria realidade, ou melhor, o caô é a própria realidade se inventando e se reinventando como potência do falso. Só que "falso" aqui já não faz referência a uma suposta verdade, mesmo que virtual; ao contrário, é o caô que, por sua potência intrínseca, torna-se capaz de inventar uma "verdade", ou seja, algo que se impõe como real. Cada Picasso é um tremendo caô, e no entanto não há nada de mais "verdadeiro". Eu ousaria dizer o mesmo das equações de Dirac.

Mas o Edu chamou a atenção para um ponto importante, que encontra aqui um paralelo. Propor o "caô" como um conceito filosófico não parece coisa de gente séria. Bem, certamente não é coisa de gente tomada pelo espírito de seriedade; mas, justamente, não se trata aí da mesma coisa.




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